Capítulo 3- A saudade que eu estava dele
Daniel
Ela estava parada bem perto de mim, tão perto que minhas mãos começaram a suar.
Foi como se o tempo parasse, apenas para nós dois. Olhei profundamente em seus olhos verdes.
– Você voltou… – Disse ainda parada no mesmo lugar
– Eu disse que voltaria!
– Daniel eu não sei porque… mas eu achei que nunca mais fosse ver você! Eu sei que você tem muitas perguntas, mas eu não sei como responder todas elas – disse nervosa
– Sarah eu posso começar perguntando se posso te abraçar? – Perguntei com os olhos marejados
– É claro que pode, seu bobo! Eu ainda estou congelada aqui – Disse sorriso Dei uns passos até finalmente lhe abraçar com muita intensidade, seu abraço era um encontro de corações que pulsava em sincronia, mesmo que por um tempo separados pela distância, eu sentia a mesma sensação, a diferença é que estava forte, mas que achei que pudesse ficar.
Sentir seu perfume, seu toque… isso fazia eu me sentir o homem mais feliz do mundo, foi como descobrir um capítulo esquecido, um capítulo que estava pausado no mesmo lugar, para reviver o momento que a saudade guardou com carinho.
Eu poderia ter perguntas, várias. Mas tinha tanto a dizer, tantas coisas que eu queria falar. Será que seria rápido demais eu falar agora? Porque dizer é tão difícil, eu quero mais que tudo, mas eu não me preparei para dizer assim. Eu esperei oito anos para fazer algo incrível, e ela não merecia mais que o extraordinário.
Fomos conversando pelo caminho, ela não mudou nada. Enquanto falava ela dava uns saltos de emoção. Eu estava novamente do mesmo jeito, observando ela sorrir, toda vez que eu via aquele sorriso, não importava o quão ruim meu dia estivesse sendo porque a partir daquele sorriso tudo, absolutamente tudo melhorava.
Lembrei do dia em que ela misturou várias tintas no meu cabelo e ele ficou com uma cor esquisita e por causa disso fiquei de castigo por uma semana, e mesmo assim ela ia me ver e conversávamos todas as tardes, ela ficava na janela me contando várias histórias e assuntos que deixavam aquele sorriso transbordar… parece que foi nesse momento que eu observei seu sorriso, aquele sorriso passou a ser o motivo do meu dia. Todos os dias eu esperava por ele, e passar todos esses anos o que mantive comigo foi lembrar daquele sorriso. Ver ele novamente era uma coisa que eu não conseguiria descrever… só sei que me tirava um sorriso que eu mal percebia.
– Então… vai ficar aqui? – Perguntou enquanto caminhávamos pelo parque ao ar livre
– Sim! mas vou viajar semana que vem. com você! – Digo e ela me olhou assustada
– Comigo? Como assim?
– É a trabalho, como uma estilista talentosa, você precisa se inspirar
– Posso saber o lugar? – Perguntou curiosa
– Prefiro que você se surpreenda.
– Daniel… preciso dizer, eu não sou a mesma de antes. Acho que mudei um pouco, não frequentava os mesmos lugares, eu quase esqueci como era sair sem ter que ir a trabalhos. Eu… quase estava esquecendo das nossas lembranças, tem algumas que eu não lembro bem, e acho que não lembro mais como era a floricultura.
– Eu sinto muito pelo nosso lugar preferido. Mas Sarah, encontraremos outro lugar, e as lembranças… faremos novas! – Ela sorriu
Terminamos a noite em uma lanchonete. Ela estava parecendo um pouco cansada.
Talvez ainda estava chateada com a floricultura. Mas ela teria um surpresa, eu só precisava que ela não percebesse.
***
Sarah
Eu estava feliz que ele havia voltado, estava feliz por estarmos conversando como antes e perceber que mesmo depois de tantos anos nada havia mudado. Mas… porque ele não disse o que queria dizer naquele dia? Porque ele ainda não falou…? Eu sei que ele ia dizer que me amava, eu sei porque eu também ia dizer isso para ele. Mas depois dele quase dizer naquele dia, depois que o metrô deu partida e depois que eu não atendi suas ligações e nem sequer abrir seus emails… ele parecia de verdade querer dizer, e naquele momento eu não estava preparada para ouvir. Mas agora depois que ele voltou, ele nem tocou nesse assunto.
Estávamos agindo como sempre. Isso era bom… então porque eu estava me sentindo um pouco chateada? Será que ele esqueceu disso? Eu posso ter esquecido nossos momentos, mas eu esperei ele para esse dia. E se ele não dizer… eu não sei o que pensar, mas não quero tocar nesse assunto por ele. Essa decisão tem que ser dele, apenas dele.
– Você dormiu esta noite Sarah? – Perguntou Sandy sentada no sofá maratonando filmes de terror
– Não lembro – Disse bocejando.
– Eu sei que você está feliz, me conta onde foram ontem? – Perguntou pausando o filme e virando para me encarar.
– Andamos… fomos apenas a uma lanchonete. E eu disse que precisava voltar porque hoje eu teria um compromisso.
– E você tem? – Questionou arqueando uma sobrancelha.
– Não tenho! não me pergunte porque eu fiz isso está bem?
– Sarah, o que aconteceu? Até ontem você estava mal querendo relembrar, querendo não deixar para trás… porque fez isso?
– Ele… ele não me ama mais! – Exclamei aborrecida
– Oh… mas ele voltou!
– Ele ia dizer que me amava, ele nem tocou no assunto agora…
– Sarah, você está pronta para isso? Ele acabou de chegar… espera ele te surpreender –
Disse se aproximando e pegando em minhas mãos – se ele te ama ele vai demonstrar!
– Demonstrar…
– Ele não pode te ver e simplesmente dizer assim, Daniel é muito tapado e todo desajeitado. Acho que ele só está fazendo do jeito dele. – Disse dando um sorriso sincero
– Acho que você tem razão! – Digo sorrindo, ele era mesmo desajeitado
– É claro que eu tenho! – Exclama convencida Corri para o quarto para me arrumar, eu acabei tendo uma ideia maluca e precisava correr para fazer ela acontecer.
– Onde você vai?
– Demonstrar… eu vou demonstrar! – Digo fechando a porta e correndo Percebi que eu nunca demonstrei amor, não sei necessariamente o que demonstrar, acho que poderia começar com um presente… sem botões dessa vez e nada de flores… o que poderia ser? Eu estou perdida. Andei pelas ruas em busca de uma demonstração.
Não sei como começar…
Desde sempre eu nunca sequer dei nada a ele, eu sei que ele odeia gravatas, ele tem várias e sempre usa a de seu pai, ele também não gosta de chocolates, tem preferência por salgados, mas eu não sei se essa demonstração seria como eu queria.
– Por favor… me vende uns salgados! – Digo parado em uma lanchonete.
Estava começando a chuviscar, logo ela estaria mais densa. E eu estava correndo, que droga! Eu não tinha o telefone do meu melhor amigo. Claro que a culpa foi minha, os salgados não poderiam molhar então eu estava escondendo no meu sobretudo cinza.
A tarde se transformou em tons mais intensos, enquanto eu procurava algum lugar para esperar a chuva passar.
Se eu estiver certa… ele não trocou de número, espero que ele atenda.
— Oi?
– Você não trocou mesmo! – Digo quer surpresa
– Era para esse dia… você quer sair mais tarde?
– Na verdade eu queria ir aí com você, eu estou na estrada.
– Tudo bem eu vou te buscar!
Fiquei esperando debaixo de uma árvore, que por sinal não era tão protetora, os galhos eram finos.
As gotas de água salpicaram meu rosto, aquilo me fez perceber que há tempos eu não pegava um banho de chuva, parecia que há tempos eu não vivia. As gotas de água, o frescor gelado… isso era magnífico!
Logo apareceu um carro que parava em meio ao asfalto molhado.
– Sarah, o que você faz nessa chuva sozinha? – perguntou Daniel saindo para abrir a porta – Pode entrar! – Disse tentando me proteger da chuva, isso me tirou um sorriso, eu já estava de roupas molhadas e os cabelos úmidos – Me admira você não ter carro –
Ele questiona dirigindo. Depois ele me encara por me ver calada – você não aprendeu a dirigir? Você é impossível Sarah Jones
– Você é irritante Daniel Johnson
– Estamos chegando
Paramos a um apartamento em frente, logo ele estacionou seu Land Rover Discovery na garagem. Subimos até o terceiro andar.
– É aqui! é pequeno. . Só não entra no meu quarto! – Disse nervoso pegando uma coberta para me enxugar.
– Pode ficar a vontade… eu vou pegar as compras no porta mala.
Tudo bem, mas eu não entraria em seu quarto se eu não tivesse um bom motivo, e minhas roupas estavam muito úmidas, e ele deveria estar nervoso por causa da mudança, mas toda mudança é uma bagunça. Entrei no seu quarto, e me deparei com tudo arrumado, nada fora do lugar, mas tinha apenas uma curiosidade… um cãozinho marrom peludo em cima de sua cama.
– Quem é você? Daniel não me disse que tinha um cachorro… – Digo pegando na fita vermelha com um laço – ele nunca teve animais de estimação… você deve ser importante. – Digo e o cãozinho lambeu minhas mãos
– Ah. você estragou a surpresa. – Disse Daniel aparecendo com umas sacolas de compras nas mãos.
– Surpresa? Ele é pra mim? – Perguntei surpresa.
– Eu não sabia o que comprar me desculpa, você gostou? – Perguntou preocupado.
– Eu amei, ele é bem fofo – Digo sorrindo acariciando a cabeça do cãozinho – Falando nisso eu trouxe isso pra você… – me levanto tirando do bolso de dentro uma sacola e entregando para ele.
– Um presente? – Perguntou sorrindo e desacreditado. Ele deixou as sacolas na mesinha ao lado e estava empolgado para abrir, quando finalmente abriu encontrou os salgados em pedaços, todos mesgalhados e molhados.
– Está horrível, me desculpe, eles eram os seus favoritos. – Digo envergonhada e chateada
Daniel nesse momento começou a rir, enquanto eu estava triste em ver os salgados esbagaçados na sacola. Olhei para ele séria, ele tentou se conter e tossiu disfarçando.
– Me desculpa – Disse rindo.
Nesse momento uma parte do salgado caiu no chão, e o cãozinho peludo voou em cima devorando tudo.
Daniel soltou uma gargalhada irresistível que eu não pude deixar de acompanhar nesse momento. Rimos com o acontecido e nesse momento inesperado, observei ele sorrir, era tão bom novamente ver ele aqui, foi como se ele trouxesse a criança que existia dentro de mim. E enquanto ele estava olhando rindo para o acontecido, eu estava olhando para ele.