Capítulo 2- O Reencontro
8 anos depois
Daniel
Já estava para completar uma semana que eu estava de volta a Nova York. Mesmo estando aqui, em nenhuma circunstância encontrei ela.
Perder o contato da sua melhor amiga, depois de quase se declarar para ela a quase oito anos parecia tão esquisito.
Não sabia onde ela estava mas eu precisava encontrá-la. E percebi que tudo havia mudado, aquela floricultura já não existia, já não era mais uma floricultura a não ser algo estando em construção ou abandonado em destroços. Ela deveria ter ficado arrasada, deveria ter ficado simplesmente devastada. Ela amava esse lugar,mas… será mesmo que ela continuou vindo nos mesmos lugares de antes? Ou pensando bem… será que ela ainda está aqui?
Eu vim todos os dias, pela manhã, a tarde e até o entardecer…
Fazem exatos seis dias e nada de Sarah Jones aparecer. O endereço assim como nenhum número é o mesmo, eu percebi antes quando a caixa postal informou. Tudo estava tão estranho. . Eu não sei o porquê ela simplesmente sumiu.
Queria tanto encontrá-la, eu precisava vê-la novamente.
Durante os anos que fiquei distante, tudo que senti foi um remorso, uma sensação de fracasso que emanava dentro de mim. Como fui tão burro… como fui tão idiota por não ter dito o que eu sentia desde o início!
Eu só queria saber se ela estava bem, queria ouvir a sua voz mais uma vez, e quem sabe…
ela deixar dessa vez eu dizer o que permaneceu todo esse tempo. E também dizer que a droga do botão não funcionou de nada! Que essa porcaria não teve nenhum efeito e que não conseguiu me tirar a saudade que se entalava na minha garganta, que fazia meu coração doer e que tiravam águas esquisitas dos meus olhos. Que toda dor permaneceu a ponto de eu ficar louco e me culpar todos os dias, de me esforçar para ter valido a pena estar longe dela, mas a verdade é que eu não sabia mais como esperar…
Talvez ela esperou demais e partiu.
Eu… eu só queria encontrá-la.
Voltei novamente para o meu novo apartamento, era pequeno, apenas um quarto e uma cozinha americana, um banheiro, mas pelo menos havia uma sacada que seria onde eu mais ficaria.
Não sou bom em dar presentes para uma mulher, aliás… eu sempre dei flores para Sarah, pois ela amava demais. Só que não sei porque eu exagerei desta vez.
– Sinto muito presente, mas você vai ficar aqui comigo mais uma noite! – Digo e o presente me olha com uns olhos gigantes e um rabinho que balançava. – Não, não se simpatiza comigo, mas você pode dormir no sofá. – Digo jogando ração no seu pote, ele não comia muito, não era tão parecido comigo e ela.
Vou até a sacada, respiro olhando para as luzes de Nova York, eu me sentia em casa novamente, parecia que ela estava tão perto.
Onde você está? Será que me esperou?
Era algo que me inquietava, eu estava desesperado por respostas. Parecia ser egoísmo, vai ver era mesmo. Porque eu queria que ela estivesse aqui pronta para me receber depois de oito anos.
Entrei no quarto e encontrei o presente peludo em cima da cama. Bom… não faz mal se ele não soltar pelo.
A noite parecia ser eterna quando você quer realmente que amanheça. Com a pessoa certa parece que o tempo passa tão ligeiro, mas tudo é o mesmo tempo.
***
Sarah
Mudanças, todos passamos por mudanças, até os ambientes mudam, você percebe que praticamente tudo gera novas experiências, mesmo sendo no mesmo lugar. Assim foi comigo depois que eu parei de ir há todos os lugares depois de ter me afastado de tudo.
Desativei tudo que tinha, eu simplesmente mudei.
Meu lugar preferido já não era mais o mesmo, tinha novos sonhos e tudo parecia estar normal. Só que às vezes eu percebia que sentia falta de tudo, mas tem algo em mim que me força a não olhar para trás…
Mesmo assim, eu sei que se passaram oito anos, sei disso. Mesmo que eu tente mentir para mim mesma, não consigo! Faz oito anos que penso nele, me pergunto onde está?
Será que ele também mudou ou se continuou com os mesmos objetivos?
Faz oito anos que espero ele, sem saber se ele espera por mim.
Deixei de demonstrar, para facilitar para ele desistir, afinal seus sonhos eram diferentes dos meus, e todas as vezes que falamos de sonhos eu não me via nos mesmos
pensamentos. Talvez eu fiz algo bom em deixar ele voar, voar para longe… mesmo que isso custou levar meu coração.
Muito bem! Tudo está como eu quis que estivesse, afinal tudo isso são as consequências das minhas escolhas. Graças a tudo eu me formei como designer de moda, estava criando a minha própria identidade visual.
Mas no fundo, o que eu queria era ser florista, mas acredito que seja melhor seguir outros caminhos.
– Até que enfim você acordou! Está hibernando? São quase 2 horas! – Disse minha irmã Sandy após me ver aparecendo na cozinha.
– Oi pra você também! – Digo colocando duas torradas na torradeira e pegando uma xícara de café.
– Hoje vamos sair? Já está me enrolando a dias… – Diz e eu reviro os olhos dando uma mordida na torrada.
– Não, sábado é meu dia de maratonas.
– Ah minha irmã! ontem você mal saiu do quarto… Hoje você e eu vamos a uma festa!
– Eu não quero festas… – resmungo
– Ah, o quê que há? Precisa se divertir… não é porque somos adultas que devemos esquecer de sair um pouco. E amanhã é feriado, aproveita!
– Você acha que é melhor tudo ficar para trás? – Digo antes que ela sumisse da minha presença. Ela parou e se virou para me encarar
– Que pergunta aleatória…
– Estou falando… daquilo – Ela sabia
– Olha Sarah, eu não posso falar por você. Se você quiser desativar tudo como fez a escolha é sua. Mas se quer voltar a ser você e reativar sua vida, essa também tem que ser sua decisão, e se você quiser de verdade deixar tudo para trás, vai em frente. Só você pode decidir o que é melhor. Eu sou sua irmã, eu quero apenas o seu bem!
– Eu não sei como consertar as coisas! – Digo com as mãos na cabeça.
– Sente saudades do passado?
– Sinto saudades dele!
– Oh minha irmã… – Diz me abraçando – você não tem nada para consertar
– Tenho Sandy, eu desativei tudo, eu mudei, eu não virei florista, eu nunca mais fui nos meus melhores lugares. Eu nem saio mais, não sinto vontade de sair a não ser trabalhar e trabalhar.
– Sarah Jones você já é uma mulher adulta – Diz com um olhar sério – porque apenas não enfrenta isso! Você não precisa repetir tudo pra se sentir bem, você…
– Eu estou esquecendo! – Exclamei – estou esquecendo de tudo! Já faz tanto tempo e o que mantinha era aquela lembrança… eu já não lembro tanto
– Você está esquecendo? – O tom de sua voz mudou, ela estava preocupada.
– Sim! Isso é ruim?
– É horrível, você é muito intensa Sarah, porque só não recomeça? Sem se afastar de todo mundo?
– Eu não sei o que fazer! – Olhei aflita para seus olhos verdes procurando respostas
– Não se preocupe com suas redes sociais. Mas ainda quer ser florista? Você pode ser duas coisas! Eu sei que você dá conta
– Quer ir comigo aquela floricultura antiga? – Perguntei pensativa
– Sarah. não sei como te dizer isso agora. Você me pediu para nunca tocar no assunto sobre ela e nem perguntar o motivo. Só que Sarah… a floricultura não existe mais!
– O quê? – perguntei incrédula
Corremos até o carro, eu precisava ver com os meus próprios olhos porque mesmo Sandy dizendo, eu não acreditava. Ela me levou no mesmo local, parecia até que eu já nem conhecia mais aquela estrada.
Assim que chegamos, desci do carro e olhei para o lugar onde foi nosso último local, a floricultura já não existia. Eu estava em choque e ao mesmo tempo com uma sensação de angústia.
– Sinto muito Sarah… você e Daniel amavam esse lugar – Disse segurando a minha mão
– Era tudo que me restava dele… eu estou esquecendo ele Sandy. Eu fiz isso! A culpa é toda minha! – Digo lhe abraçando.
– Não diga isso… você só queria encontrar um outro meio de superar
– Posso ficar sozinha? – Perguntei me afastando e olhando para o lugar
– Claro! Me liga se quiser uma carona está bem?
– Não se preocupe.
Ela sorriu de canto, passou a mão na minha cabeça como um sinal de “vai ficar tudo bem” e entrou no carro. Olhei novamente para aquele cenário, o local onde outrora flores exibiam suas cores vibrantes e fragrâncias envolventes agora é uma cena de desolação. O que antes era uma floricultura pulsante e cheia de vida, hoje se encontra demolida, como um testemunho silencioso do tempo implacável.
Meus olhos embaçaram, as lágrimas já estavam se desenrolando sobre meu rosto. Meu peito estava apertado, com uma mistura de pesar e tristeza que pesava nos olhos e na alma.
Era minha única memória… parecia que eu já estava esquecendo… me sentia completamente desequilibrada, sem chão, era tudo que restava e agora não tinha mais nada.
Respirei fundo… cabia a mim a decisão sobre deixar tudo para trás. E mesmo com tanta dor, eu olhei para aquele cenário novamente, dessa vez com mais seriedade. O cenário, embora triste, pode evocar uma melancolia poética, lembrando-me da efemeridade da beleza e da importância de preservação do que é precioso enquanto podemos e lembramos, e eu me lembrava.
E não, eu não iria deixar nada para trás!
– Eu sabia que você iria aparecer! – Uma voz grave masculina ecoou atrás de mim. Não consegui virar facilmente porque eu estava processando. Eu não ouvia aquela voz a muito tempo, estava um pouco diferente e ao mesmo tempo nostálgica.
Me virei devagar, e assim que meus olhos encontraram os seus, eu não consegui reagir com um sorriso ou correr em seus braços, tudo que fiz foi ficar parada, meus olhos se arregalaram num instante de completa surpresa, como se a realidade tivesse sido revelada diante deles. As mãos, antes inativas, voam rapidamente em direção à boca, como se instintivamente tentassem conter uma exclamação que se formava em meus lábios.
Era ele!
Eu congelei por um momento. Ele estava apenas a alguns passos de distância. Abri um sorriso em meio às lágrimas que escapavam do meu rosto, ele correspondeu na mesma intensidade
– Você voltou!