Capítulo 1 – A Despedida
Daniel
Ela estava de vestido preto e com o meu sobretudo que lhe deixava tão perfeita, junto com uma boina sólida que caía especialmente em seus cabelos loiros enrolados. Seu sorriso era contagiante e enquanto ela olhava encantada para as flores, eu olhava encantado para ela.
Pude notar que sua expressão mudou, ela abaixou a cabeça e lutava para não demonstrar uma única tristeza.
Ela sabia perfeitamente que aquele era o nosso último dia. Meus olhos estavam marejados e eu estava me esforçando o máximo para não escapar nenhuma lágrima.
Sarah olhou com a cabeça um pouco inclinada, deu um sorriso de canto e percebi que ela estava escondendo algo em suas mãos.
– Não queria que fosse, Daniel.
– Prometemos não tocar no assunto agora, ainda temos o dia inteiro para aproveitar.
– Se quer aproveitar por favor me abrace, não sentirei saudades de olhar essa floricultura pois quase todas as vezes eu viria aqui e pensaria em você. Não sentirei saudades de ir na lanchonete e nem de outro lugar, o que eu realmente vou sentir saudades é do seu abraço, do seu toque.
– Vem aqui. – Digo a envolvendo em um abraço.
– Me desculpa por não te abraçar tanto, agora me sinto culpada. Você é meu melhor amigo, e quase nunca senti esse abraço. – Ela estava me apertando… isso era incomum.
– Eu entendo que você não gosta muito de toque físico. Mas saber que vai sentir falta do meu, faz eu me sentir especial – Digo passando as mãos em seus cabelos.
– É porque você é! – Sorriu
Ela era o motivo do meu sorriso. Seria nosso último dia e decidimos ir a todos os lugares que íamos desde quando tínhamos apenas dezesseis anos. Sarah e eu éramos inseparáveis, conheci minha cachinhos dourados em uma esquina depois do colégio, era por volta das doze horas e o dia estava chovendo, o clima estava nublado e eu tinha
perdido meu pai. Estava sentado em um banco para pegar o ônibus, mas eu deveria estar perdido em pensamentos pois quando os alunos entravam, eu não conseguia sequer levantar. Aquele dia seria o pior dia para mim, e eu não iria conseguir chegar em casa e não ver ele lá para perguntar como foi meu dia de aula. Eu estava sozinho, eu me sentia definitivamente só, pois a única pessoa que eu tinha, já não estava mais comigo. .
Foi nesse dia de chuva, no dia onde eu acreditava que não teria dias melhores, onde percebi que a chuva já não estava mais encharcando meu uniforme, nem sentia os salpicos das gotas de água em meu rosto. Olhei e vi uma menina pálida de uniforme, cabelos loiros com curvas nas pontas e uma franja engraçada com um sorriso gigante me protegendo da chuva. Ela não perguntou nada, e eu também não conseguia dizer nada. Tudo que ela fez foi estender sua mão e me entregar um botão do seu casaco e dizer “coloque sua dor no botão e você vai melhorar”
Nesse dia eu conheci a única pessoa que me salvou da tempestade. E ela era tudo para mim, e eu não me referia a tempestade daquele dia.
Hoje seria diferente, meu último dia e eu não estava ansioso, mas era o sonho dos meus pais então eu faria acontecer, e minha cachinhos me apoiava, mesmo eu sabendo que ela gostaria que eu ficasse.
Saímos da floricultura e fomos caminhando na rua de Nova York.
– As horas estão passando com tanta pressa, eu tenho uma coisa pra te dizer: “Sarah”…
você tem que saber – Digo apreensivo
– Antes que me diga, vamos chamar um táxi, você tem que ir para a estação. – Ela parecia ter me interrompido de propósito. Parecia estar tão nervosa quanto eu O tempo foi passando, e já estava em nossos momentos finais. Eu já estava com tudo pronto para ir, e tudo que tinha era a minha mala, e uma menina emocionada ao meu lado. Tudo que eu queria era poder ficar e estar ao lado dela como ela sempre fez comigo.
– Talvez eu saiba o que quer dizer… – disse com a cabeça baixa – mas pode ser que eu não queira ouvir…
– Você tem certeza?
– Se eu ouvir não posso te fazer ficar, se você disser não ficará. E talvez seja melhor eu não ouvir, porque eu também iria dizer e talvez isso faça você não ir.
Meu coração por um momento ficou lento. Eu precisava, precisava dizer. Escorreu uma lágrima de seus olhos, ela me olhava ansiosa, sua respiração estava ofegante e ela estava lutando para não desviar nossos olhares. Tudo que eu queria naquele momento era sentir seu beijo.
– Mas… – ela me interrompe
– Tudo bem! – Disse e abaixou a cabeça. – Você pode entrar agora. E não se preocupe, eu vou estar aqui, torcendo por você Daniel. O mundo te espera!
– Sarah…
– Abra sua mão – diz pegando minha mão e colocando um botão preto. Isso me faz rir nostálgico e meus olhos embaçaram , ela sorri. – coloque a saudade neste botão, todas as vezes que você sentir que a dor será insuportável.
Ela me deu um último abraço e foi se afastando, nesse momento era impossível controlar as lágrimas que escorriam em meu rosto. Entrei e me virei para olhar pela janela. Eu poderia não dizer, mas eu precisava.
– SARAH. – Gritei. Ela se virou com os olhos lacrimejando – EU TE … – O metrô deu a partida, e eu nem pude dizer a ela. Não pode dizer que eu a amava.
Peguei imediatamente o celular trêmulo, mesmo assim consegui entrar no seu contato e apertar a troca em ligar, a chamada chegava e nenhum sinal de um retorno por ela. Ela provavelmente não queria ouvir, não dessa maneira, eu deveria ter lhe dito. Os meus olhos embaçaram e as lágrimas escorreram sobre meu rosto.
Nesse momento eu lutava para por essa dor no maldito botão. Então eu chorava copiosamente enquanto o apertava com toda minha força.